sábado, 28 de janeiro de 2012

Era ele

Eu sempre frequentei lugares estranhos, mas como esse nunca. Foi difícil até sair do carro, depois de ver aquela rua assustadoramente desabitada, sendo meu o único carro que constava ali. Havia um bar. De início, a porta já estava emperrada e sem metade da pintura, os vidros empoeirados e as paredes cheias de mofo.

O homem debruçado na mesa tomava o que sobrou da sua garrafa de pinga e nem notou a minha presença. Tirei meus óculos escuros dos olhos, pois não se faziam necessários em um ambiente onde a luz era tão fraca, quanto o bêbado debruçado sobre a garrafa.

Ao longe se ouvia um barulho de água jorrando da torneira, o que me deu a esperança de haver um sóbrio ali que me pudesse dar a informação. Fui até o balcão e o chamei.

Vestido com uma camisa de manga um pouco suja, dobrada até acima dos cotovelos e um pano úmido nas mãos que vinha enxugando com impaciência, o homem de boa aparência me perguntou o que eu desejava. Enquanto ele falava, eu pude observar suas feições, seu sorriso, seus olhos. Ele não me era estranho. Concentrei-me nele, sua voz, o formato do rosto, o jeito rude e impaciente com que secava as mãos. Era o mesmo que fazia quando éramos pequenos e a mãe o mandava lavar as mãos para comer e ele não queria secar, como se fosse uma obrigação.

Eu pensei que estivesse perdida, mas não, eu estava no lugar certo.