quarta-feira, 7 de julho de 2010

Gelo



Dezessete anos na mesma vida a fizeram fria, como gelo, ou mais que gelo. Não dava para saber. Memórias congeladas e esquecidas. Um passado morto e um presente que mata. Uma vida sem ideal e sem crenças, sem acreditar em um final feliz.

Pais mortos, família morta, e só ela sobrevivia da sua maneira fria, fazendo seu programa na noite fria para alimentar sua alma já congelada.

Mais um dia, mais um cara, mas todos eram iguais, faltava sentimento. Não sabiam que ela sofria. Todas as noites eram agoniantes e nostálgicas. Não aguentava mais essa vida.

Contos de fada, são somente contos de fada e nada mais. A vida real mata. Mas quem sabe, por milagre ou destino ela encontrasse seu ponto de ebulição.

sábado, 26 de junho de 2010

O Fora



Seus olhos já tinham um ponto fixo. Ela. A garota mais linda, perfeita e meiga do colégio na opinião dele, mas para os outros, ela não passava de mais uma esnobe sem coração.

Enquanto ela foleava uma revista de moda pensando no penteado do dia seguinte, ele a observava através da estante da biblioteca. Mesmo sendo alérgico àquele aroma empoeirado de livros mal cuidados, ele arriscava sua preciosa saúde para admirá-la.

De repente uma onda de coragem se espalhou pelo ar e ele andou na direção da garota. Dois passos, porém, antes de tocá-la, ele parou.

O que ele estava fazendo? Não podia parar agora. Só estava a dois passos da felicidade completa ao lado dela.

Aquela onda voltou. Arrumou seus óculos, deu uma última ajeitada na franja que passava lambida pelo meio da testa, colocou uma das mãos dentro do bolso da calça roxa e com a outra tirou um dos fones do ouvido, para que pudesse dar àquele momento a sua trilha sonora perfeita: Cine.

Deu os dois passos. O sorriso ia aumentando em seu rosto. Aquela garota perfeita estava tão perto agora, que ele podia sentir o perfume gostoso que vinha dela, da pele dela, do cabelo dela...

-Amanda?

Todos que estavam presentes na biblioteca olharam na direção da voz grave que chamou a garota pelo nome, inclusive a garota. O ambiente ficou impregnado de suspiros, as garotas não paravam de olhar para ele.

O pobre fã do Cine ficou paralisado atrás da garota que olhava através dele. Deveria ter sido mais rápido. Não lhe restava outra alternativa senão ir para a casa chorar.

E foi o que fez, ao som de Cine.

Sobre a Vida



Se minha imaginação fosse tão fértil, como muitos acham que é, hoje eu não estaria aqui, sentado em uma calçada em frente a um casarão abandonado pelas chamas e pedindo míseras moedas a quem passa. Moedas essas, que não põe leite ao meu café.

Talvez minha imaginação possa, sim, me levar a algum lugar. Quem sabe o paraíso? Mas, onde fica o paraíso? Ninguém nunca me mostrou o lugar.

Passaram pela minha vida pessoas dos mais diversos tipos, mas eu gosto de vê-las e lembrá-las pelo coração. Costuma ser o órgão que recebe a culpa por cada ato pensado, ou impensado.

A questão é: de onde estou posso ver muitas coisas e analisá-las também. Um exemplo? Este homem que passa com pressa segurando em uma mão uma caixa de bombons e em outra o celular parece ter um bom coração, só pelo fato de que não mandou a secretária entregá-los.

Eu diria que as pessoas variam, variam em tudo, humor, amor, roupa, sapato, personalidade. Personalidade, sim. Muitas tentam, ou fingem ser o que não são para agradar outras, ou simplesmente se submetem a ser o que não são para agradar outras.

Você deve estar se perguntando quem sou eu e de onde eu tirei essas idéias. Bem, eu sou um simples EU abandonado que já passou por muitas histórias. E onde aprendi? Aprendi com a vida.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Infância


Sentir novamente meus pés pisando na grama misturada a lama, sentir o vento batendo nas folhas das árvores, e em meu rosto, trazendo consigo o mesmo aroma da infância sofrida, porém inesquecivelmente gostosa.

Foram-se os tempos em que todos se juntavam ao redor da fogueira para contar histórias de terror e acabavam adormecendo sob barracas improvisadas de lençois velhos, ou que corriam para o rio com os pés descalços para tentar pescar com as mãos sem nenhum sucesso.

Não tínhamos dinheiro, mas tínhamos uma vaca e uma horta, isto já nos era o bastante. Janete não era muito bonita, mas seu leite nos sustentou por anos e anos. Agora eu procurava por ela, mas Janete não estava mais lá. O tempo passou e Janete passou com ele.

Havia crianças por perto, perguntei se sabiam quem estava morando na minha antiga casa agora. Não havia ninguém.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Mudança Geral



É incrível o quanto nunca estamos satisfeitos com nada, simplesmente desejamos ser o que não somos, ou ser COMO não somos, mas para quê? Quem não quer ser mais magra ou mais gorda? Quem não quer se parecer com aquele astro do cinema? Quem não quer a vida daquele cara bem sucedido? Ou quem não quer uma família menos complicada?

Apesar de todas as mudanças que queremos fazer nas nossas vidas e de todas as promessas não cumpridas para alcançar a tão esperada MUDANÇA GERAL, ainda assim, sabemos que tudo o quê temos e tudo pelo quê passamos nos é de grande valia. Esses pequenos (ou grandes) detalhes que queremos mudar fazem a diferença no 'quem nós somos'. Não seria apropriado e nem bem-vindo, se, de repente, nos tornássemos 'aquilo' que sempre sonhamos sem esforço algum, simplesmente por um milagre, podemos dizer.

O que nos torna críticos e forma a nossa personalidade é o esforço que empenhamos para alcançar determinado objetivo. Alguém gosta de uma criança mimada que nunca recebeu um não? E quando esse ser nojento cresce, se torna o quê?

É assim que devemos pensar. As dificuldades vêem para nos fortalecer, mesmo que, às vezes, ela seja um pouco excessiva (o que muitas vezes acontece), ela passa, nós a superamos, passamos por cima da tragédia catastrófica que possa ter acontecido e saimos disso felizes e saltitantes, dando risada do que aconteceu. Ou, podemos simplesmente aprender a ver com outros olhos, o que também é bem-vindo.