sábado, 26 de junho de 2010

O Fora



Seus olhos já tinham um ponto fixo. Ela. A garota mais linda, perfeita e meiga do colégio na opinião dele, mas para os outros, ela não passava de mais uma esnobe sem coração.

Enquanto ela foleava uma revista de moda pensando no penteado do dia seguinte, ele a observava através da estante da biblioteca. Mesmo sendo alérgico àquele aroma empoeirado de livros mal cuidados, ele arriscava sua preciosa saúde para admirá-la.

De repente uma onda de coragem se espalhou pelo ar e ele andou na direção da garota. Dois passos, porém, antes de tocá-la, ele parou.

O que ele estava fazendo? Não podia parar agora. Só estava a dois passos da felicidade completa ao lado dela.

Aquela onda voltou. Arrumou seus óculos, deu uma última ajeitada na franja que passava lambida pelo meio da testa, colocou uma das mãos dentro do bolso da calça roxa e com a outra tirou um dos fones do ouvido, para que pudesse dar àquele momento a sua trilha sonora perfeita: Cine.

Deu os dois passos. O sorriso ia aumentando em seu rosto. Aquela garota perfeita estava tão perto agora, que ele podia sentir o perfume gostoso que vinha dela, da pele dela, do cabelo dela...

-Amanda?

Todos que estavam presentes na biblioteca olharam na direção da voz grave que chamou a garota pelo nome, inclusive a garota. O ambiente ficou impregnado de suspiros, as garotas não paravam de olhar para ele.

O pobre fã do Cine ficou paralisado atrás da garota que olhava através dele. Deveria ter sido mais rápido. Não lhe restava outra alternativa senão ir para a casa chorar.

E foi o que fez, ao som de Cine.

Sobre a Vida



Se minha imaginação fosse tão fértil, como muitos acham que é, hoje eu não estaria aqui, sentado em uma calçada em frente a um casarão abandonado pelas chamas e pedindo míseras moedas a quem passa. Moedas essas, que não põe leite ao meu café.

Talvez minha imaginação possa, sim, me levar a algum lugar. Quem sabe o paraíso? Mas, onde fica o paraíso? Ninguém nunca me mostrou o lugar.

Passaram pela minha vida pessoas dos mais diversos tipos, mas eu gosto de vê-las e lembrá-las pelo coração. Costuma ser o órgão que recebe a culpa por cada ato pensado, ou impensado.

A questão é: de onde estou posso ver muitas coisas e analisá-las também. Um exemplo? Este homem que passa com pressa segurando em uma mão uma caixa de bombons e em outra o celular parece ter um bom coração, só pelo fato de que não mandou a secretária entregá-los.

Eu diria que as pessoas variam, variam em tudo, humor, amor, roupa, sapato, personalidade. Personalidade, sim. Muitas tentam, ou fingem ser o que não são para agradar outras, ou simplesmente se submetem a ser o que não são para agradar outras.

Você deve estar se perguntando quem sou eu e de onde eu tirei essas idéias. Bem, eu sou um simples EU abandonado que já passou por muitas histórias. E onde aprendi? Aprendi com a vida.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Infância


Sentir novamente meus pés pisando na grama misturada a lama, sentir o vento batendo nas folhas das árvores, e em meu rosto, trazendo consigo o mesmo aroma da infância sofrida, porém inesquecivelmente gostosa.

Foram-se os tempos em que todos se juntavam ao redor da fogueira para contar histórias de terror e acabavam adormecendo sob barracas improvisadas de lençois velhos, ou que corriam para o rio com os pés descalços para tentar pescar com as mãos sem nenhum sucesso.

Não tínhamos dinheiro, mas tínhamos uma vaca e uma horta, isto já nos era o bastante. Janete não era muito bonita, mas seu leite nos sustentou por anos e anos. Agora eu procurava por ela, mas Janete não estava mais lá. O tempo passou e Janete passou com ele.

Havia crianças por perto, perguntei se sabiam quem estava morando na minha antiga casa agora. Não havia ninguém.