Todos pegavam calmamente suas casas e as colocavam em lugares mais altos. Alguns detalhes ficavam esquecidos e, sem medo, íamos buscá-lo. Era só um rio que transbordaria, nada mais.
Estendemos uma toalha colorida sobre a grama verde da primavera, colocamos sobre ela guloseimas que tínhamos em casa e esperamos. Enquanto degustávamos doces e salgados feitos na pequena padaria da cidade, que seria inundada.
Meu celular não estava no meu bolso. Lembrei-me de tê-lo deixado perto da minha casa na árvore, feita quando eu ainda tinha sete.
Não houve alarde, levantei-me e fui buscá-lo.
As ruas estavam vazias, as almas que ali habitavam já haviam encontrado seus pontos de abrigo metros acima da minha pequena cidade. E era cada um com seu imenso espaço.
Ao longe pude ouvir pequenos passos que caminhavam saltitantes. Parei para ouvir o único ruído da minha cidade. Sorrateira ela entrou no meu campo de visão. A uma distância curta de mim, estava uma menina de cabelos compridos e negros, mas ela não me viu. Estava entretida com seus saltos.
Ela parou de repente e fixou o olhar em algum ponto distante, que eu não conseguia enxergar. Uma parede do meu lado direito, não me deixava ver além. Imóvel, ela permaneceu por alguns segundos, enquanto eu a observava também imóvel.
A água veio. Foi rápido. Tive um impulso de salvá-la, mas foi tarde demais. Ela me olhou no exato momento em que a água a levou. Silenciosa.
Corri.
A água não me atingiu e eu voltei para o nosso delicioso piquenique. Não houve alarde.
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